sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O diabo e o lavrador

Hoje lemos um texto deste livro e ficámos a saber quem é o seu autor (Alexandre Parafita), estudando a sua biografia.
Deixamos aqui a história que adorámos para que a possam partilhar:

"Conta-se que um dia o diabo foi ter com um lavrador e propôs-lhe fazerem uma sementeira a meias. O lavrador, como lhe fazia jeito dividir os encargos, aceitou.
– E que semeamos? – perguntou.
– O que for melhor – disse o diabo.
– Que tal semearmos um campo de batatas?... – avançou o lavrador.
– Pois que seja – concordou o sócio.
Meteram então ombros ao negócio. O diabo entrou com as sementes, os adubos, os pesticidas, e o lavrador entrou com o trabalho. Foram dias, semanas, meses, a sachar, a regar, a pulverizar... e, por fim, o batatal cobriu de verde toda a planura do campo. Ficou um autêntico regalo para os olhos. A colheita adivinhava-se da melhor.
Entretanto, ao aparecer para a colheita, o diabo ficou de tal modo deslumbrado com tanta verdura que logo procurou arranjar maneira de ficar com a melhor parte. Propôs então ao lavrador:
– Vamos fazer a divisão da seguinte forma: eu fico com a parte do batatal que está para cima da terra e tu ficas com a parte que está para baixo.
O lavrador nem pestanejou. Aceitou logo.
– Se é assim que queres, assim seja!
Já se está a ver. Ficou o lavrador com as batatas e o outro com a rama.
No ano seguinte, apareceu de novo o diabo ao lavrador a propor que voltassem a fazer uma sementeira a meias.
– E que semeamos? – perguntou o lavrador.
– O que for melhor – disse o diabo.
– Batatas, não, que ainda as tenho do ano passado. Que tal semearmos um campo de trigo?
– Pois que seja – concordou o sócio.
Reataram então o negócio.
O diabo entrou com as sementes e o lavrador com o trabalho. Chegada a altura da colheita, lá estava a seara – e que bela! – a ondular ao ritmo da brisa mansa do Estio. Veio então o diabo para as partilhas e diz ao lavrador:
– Da última vez não me correu bem o negócio que fiz contigo. Por isso, ficas tu agora com a parte do cereal que está por cima da terra e eu fico com a parte que está por baixo!
O lavrador aceitou. É claro. Ficou ele com o grão e o outro com as raízes. Quando deu conta da asneira que fez – dizem –, o diabo fartou-se de dar guinchos e pinotes. E daí em diante já não quis mais sociedades com o lavrador."
Alexandre Parafita, “O diabo e o lavrador”, in Diabos, Diabritos e Outros Mafarricos, Lisboa, Texto Editora, 2003.
E agora deixamos os nossos poemas:

Conta-se que certo dia
Um diabo bem matreiro
Propôs a um lavrador
Um negócio interesseiro.

Quis semear um batatal
O malvado do diabo
O lavrador aceitou
E o batatal semeou.

Ao aparecer para a colheita
O diabo espertalhão
Tentou logo ficar
Com a melhor divisão.

O diabo foi tão parvo
Que a rama da batata escolheu
O lavrador sem hesitar
Imediatamente lha deu.

No ano seguinte
Voltou o diabo
Dizendo ao lavrador
Que havia sido enganado.



Decidiram então
Um cereal semear
E o diabo desta vez
Com a raiz quis ficar.

E mais uma vez,
O palerma do diabo
Querendo enganar o lavrador
Saiu muito chateado.

É isto o que acontece
Àqueles que tentam enganar,
Sem saber bem o porquê
Acabam sem nada ficar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu adorei esta história principalmenteda da parte que o diabo escolheu as raízes foi mesmo engraçado naõ acham ?
Carolina